quinta-feira, 21 de julho de 2016

#6 - Introdução a Fitopatologia, parte 2

Olá amigos,

Nesta segunda parte da "introdução a fitopatologia" abordarei os aspectos de controle químico para fitopatógenos. (Obs: na terceira parte vou escrever sobre os demais tipos de controle e na última para fechar o conteúdo tratarei sobre a etiologia e epidemiologia das principais doenças nas culturas de maior impacto econômico).

(Escultura de Alexis Millardet em Bordeaux, França. Criador da Calda Bordalesa, importante fungicida que a principio foi utilizado para o controle do míldio da videira.)


(Classes toxicológicas de agrotóxicos, segundo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.)

O uso de agrotóxicos além de riscos para saúde humana, pode acarretar danos ambientais. Benzimidazois em macieiras, por exemplo, leva a mortalidade da população de minhocas da área,retardando a decomposição dos restos foliares (a macieira é uma planta caducifólia).Ácaros-predadores também apresentam sensibilidade ao benzimidazol o que pode levar ao rápido estabelecimento de ácaros fitófagos e mais um problema na conta do produtor rural.

A comercialização dos agrotóxicos é feita através de diferentes formulações em conjunto com adjuvantes (substâncias inertes) para facilitar o manuseio da calda e a aplicação do produto,além de ajudar na estabilidade da suspensão e na eficiência do produto .As principais formulações são:

GRANULADOS (G OU GR): mistura dissolvida mais agente carreador (argila,por exemplo) formando grânulos que serão aplicados via solo. Apresentam como vantagens: nenhuma deriva, dispensa água para aplicação e liberação gradativa do princípio ativo.

PÓ SECO (PS): contém menos de 10% do ingrediente ativo, PS geralmente está associado a agrotóxicos a base de enxofre, como diluente são utilizados talco ou bentonita para ajudar na dispersão das partículas e evitar a formação de grumos que prejudicam a aplicação e a eficiência do produto.É vantajoso para o tratamento de sementes pois não incorporam umidade, facilitando a armazenagem ou plantio em SPD.

PÓ MOLHÁVEL (PM): as partículas são finamente moídas, além do ingrediente ativo há o agente molhante que pode ser iônico ou não iônico (preferência por não iônicos para evitar a precipitação com água rica em sais minerais) pode conter também agente espessante e agente hidrofílico,apresenta de 25% a 50% de ingrediente ativo.

SUSPENSÃO CONCENTRADA (SC): as partículas são finamente moídas chegando a ser de 10 a 15 vezes menores que na formulação PM, são de fácil dispersão e de grande estabilidade.Uma vantagem da SC é a afinidade com água. Permite eficaz tratamento de sementes por facilitar a penetração e cobertura do ingrediente ativo na semente.

CONCENTRADO EMULSIONÁVEL (CE): o ingrediente é dissolvido em óleo que está associado a um surfactante (reduz a tensão superficial que melhora o espalhamento) dispersa em água formando uma emulsão estável (mistura de substância hidrofóbica em água devido agente dispersante).Não utilizar CE em culturas que apresentam sensibilidade a óleo.

O método de aplicação é determinado pelo tipo do equipamento de aplicação disponível, formulação do produto e tipo da cultura.Alguns métodos de aplicação são:

PULVERIZAÇÃO (utilizado em PM, SC, CE via bomba costal,barra de pulverização , entre outros implementos) POLVILHAMENTO (utilizado em PS por meio de polvilhadeiras, tem a vantagem de não necessitar de água e sua desvantagem é baixa aderência quando utilizada nas parte aéreas de plantas), APLICAÇÃO DE GRANULADOS (utilizado em G e GR, com granuladeiras via solo, no sulco ou cova de plantio,não necessita de água), FUMIGAÇÃO (aplicação de produto volátil que emitirá gases tóxicos a patógenos).

Os agrotóxicos para controle de doenças em plantas são classificados de acordo com seu modo de ação, produtos que não penetram no tecido da planta e formam uma camada externa no local de aplicação são denominados protetores ou de contato. Produtos que são absorvidos pela planta e translocados de um ponto a outro, são denominados sistêmicos e ainda existem os neo-sistêmicos ou de profundidade que são absorvidos pela folha e tem translocação translaminar (movimento adaxial-abaxial por exemplo).

Entre os protetores se destacam o enxofre elementar que é compatível com muitos fungicidas além de ser de baixo custo e apresentar baixa toxicidade (grupo IV) exceto para Rosaceaes (macieira,por exemplo) e Curcubitaceaes (melão,por exemplo) quando aplicado em altas temperaturas. E os cúpricos (a base do cobre), a Calda Bordalesa (sulfato de cobre penta-hidratado + cal virgem) é um fungicida desse grupo que é bastante conhecido sendo utilizado no controle da ferrugem do cafeeiro, além de várias outras doenças. Seu uso em excesso pode levar ao acúmulo de íons de cobre no solo. Entre os protetores orgânicos, emprega-se com frequência ditiocarbamatos em razão de sua eficiência, baixa fitotoxicidade e baixo custo de aquisição, suspeita-se que o principal metabólito dos ditiocarbamatos, o etileno tiouréia, é carcinogênico (causador de tumores malignos). Outros grupos de protetores: Dicarboximidas, Nitrogenados alifáticos, Aromáticos.

Os produtos de ação sistêmicas podem ser absorvidos pelas raízes ou folhas, sendo translocados via xilema, a ação sistêmica é mais significativa na parte inferior para a parte superior devido ao fluxo transpiratório da planta. Quando comparados aos protetores os sistêmicos apresentam diversas vantagens:

-Consegue atingir locais que para os protetores são inacessíveis
-Tem tempo de ação maior que os protetores
-Requer doses menores que as usadas com os protetores
-Consegue atingir a parte aérea quando aplicado via solo ou em sementes

A grande desvantagem dos sistêmicos é a pressão de seleção sobre indivíduos aumentando a freqüência de indivíduos resistentes, os protetores por atuarem em diversos sítios do metabolismo dos fitopatógenos tem baixa possibilidade de desenvolverem indivíduos resistentes. Os mecanismos de resistência envolvem: redução da afinidade no sítio de ação; redução da absorção ou aumento da capacidade de eliminação; destoxificação; não conversão para o composto ativo; compensação (aumento da enzima inibida); desvio do ciclo, estes mecanismos podem atuar em conjunto ou separadamente.

Para evitar a seleção de indivíduos resistentes, recomenda-se: não utilizar o produto sistêmico isoladamente (sistêmico+protetor ou rotação de sistêmicos com modo de ação divergentes), seguir a dose,época e período de reentrada do fabricante, não aplicar o produto no solo para controlar doenças na parte aérea a menos que ele tenha sido desenvolvido para ser aplicado dessa forma, adotar manejo integrado.

Abaixo coloquei alguns exemplos de grupos fungicidas sistêmicos, modo de ação e o nome comercial de alguns deles, quais fungos que controlam (lembrando que para saber se o fungicida pode ser usado ou não em determinada cultura, você deve acessar o site agrofit, http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons para saber se o fungicida é registrado para a cultura de interesse,caso o fungicida não apareça na lista da agrofit deve-se utilizar outro fungicida que seja registrado)

GRUPO: Benzimidazóis
MODO DE AÇÃO: Interferem na biossíntese e divisão do núcleo
NOME COMERCIAL (EXEMPLO) : Carbendazim...
CONTROLE: Manchas foliares, antracnose, oídios, tratamento de sementes para Fusarium sp.

GRUPO: Triazóis
MODO DE AÇÃO: Interferem na biossíntese de esteróis (especificamente do ergosterol)
NOME COMERCIAL (EXEMPLOS): Triadimenol, Tebuconazole, Metconazole...
CONTROLE: Ferrugens, oídios, manchas foliares, antracnose...

GRUPO: Imidazóis
MODO DE AÇÃO: Inibidores da biossíntese do ergosterol (semelhantes ao triazóis)
NOME COMERCIAL (EXEMPLO): Imazalil
CONTROLE: Pós-colheita de citros

GRUPO: Dicarboximida
MODO DE AÇÃO: Interferem na biossíntese de lipídios e membranas
NOME COMERCIAL(EXEMPLO): Procimidone
CONTROLE: Manchas foleares e podridões causadas por B.cinera, S.sclerotiorum

Os organofosforados apresentam mesmo modo de ação e é um grupo onde seus produtos são específicos para controle da brusone do arroz (P.orizae)

GRUPO: Carboxamidas
MODO DE AÇÃO: Inibem a succinato desidrogenase, enzima que participa do processo de respiração na mitocôndria.
NOME COMERCIAL(EXEMPLOS) : Carboxin, Oxycarboxin...
CONTROLE: Filo Basidiomycota (ferrugens, carvões, cáries e Rhizoctonia spp.)

GRUPO: Estrobilurinas, descobortas recentemente por um composto produzido pelo fungo Strobilurus tenacellus
MODO DE AÇÃO: Inibidores de quinonas/ acoplamento no citocromo b no complexo III da respiração.
NOME COMERCIAL (EXEMPLOS): Azpxystrobin,tryfloxystrobin...
CONTROLE: Ferrugens, oídios, manchas foleares,

GRUPO: Carbamato
MODO DE AÇÃO: Interferem na permeabilidade da membrana
NOME COMERCIAL: Propamocarb
CONTROLE: Oomycetes (Pythium e Phytophthora),pode ser usado na rotação com outros produtos que também controlam esse tipo de fungo já que o modo de ação é diferente evitando assim a resistência de indivíduos.

Inté a próxima.

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