sábado, 13 de agosto de 2016

Pessoal peço desculpas pela falta de atualizações aqui no blog durante as última semanas, até segunda vou trazer algo novo para vocês.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

#7- Introdução a Fitopatologia (parte 3)

                      
                          JUROS SIMPLES E JUROS COMPOSTOS EM FITOPATOLOGIA?

Antes de iniciar o assunto dos demais tipos de controle para fitopatógenos, eu fiz uma releitura da parte 1 e gostaria de trazer a luz de vocês um conceito útil na tomada de decisão dos métodos de controle,que seria o ciclo de vida dos patógenos (ciclo primário e ciclo secundário).

O ciclo primário é uma característica de patógenos que produzem inóculo apenas uma vez quando estão na cultura, em outras palavras durante todo o ciclo da cultura (plantio até a colheita) não ocorrem novas infecções, logo se a quantidade de patógenos primários em uma cultura é baixa a intensidade da doença também é baixa! O aumento da incidência da doença ocorre gradativamente a cada plantio, vamos pegar a cárie do trigo como exemplo, no caso as sementes infectadas carregam ustilósporos os quais são dispersos e atingem a superfície de sementes sadias, após o plantio o fungo infecta a planta e novos ustilósporos serão produzidos nas sementes.  

O que ocorreu então? O fungo que causa doença foi disperso, infectou novas sementes, após o plantio produziu novas estruturas de sobrevivência nas sementes infectadas,foi disperso...e assim continua!

O ciclo secundário ocorre quando após a infecção primária a planta continua produzindo mais inóculo e gerando novas infecções, a ferrugem asiática da soja é um exemplo de doença que apresenta ciclo secundário, no caso os esporos (inóculo primário) são dispersos pelo vento atingem folhas sadias,iniciam o ciclo primário produzindo novos esporos (inóculo secundário) que são dispersos novamente e causam novas infecções e por aí vai!

As doenças de juros simples tipicamente são: murchas, cáries, carvões, tombamentos, podridões radiculares e as de juros compostos: antracnoses, ferrugens, manchas foliares e viroses (via inseto vetor).

Bem, acho que deu pra pegar um pouco o fio da meada, qualquer dúvida podem deixar nos comentários.

partindo para a parte 3 propriamente dita,vou começar falando sobre controle cultural.



Puxando para sistemas alternativos (agricultura orgânica) o controle cultural é um grande trunfo. A rotação de culturas por exemplo é uma medida de controle cultural (você pode ler um pouco mais neste post: http://doutordocampo.blogspot.com.br/2016/07/rotacao-de-culturas-para-pequenos.html), e sua efetividade vai depender dos tipos de patógenos na área,caso sejam patógenos com ampla gama de hospedeiros como a Sclerotinia sclerotiorum (fungo causador do mofo branco) forçam a utilização de outra medida de controle.


                                                           (Sclerotinia sclerotiorum)

Outros métodos que se enquadram como controle cultural:

A eliminação de restos culturais desde que economicamente viável tem grande potencial como por exemplo no controle do mofo cinzento (causado por Botrysis cinera) que é a doença mais importante da cultura da rosa.

Adição de matéria orgânica que vai introduzir microrganismos benéficos que irão competir com os patógenos além de melhorar as condições químicas e físicas do solo.

Drenagem que é uma medida bastante eficiente no controle de Oomycetes pois eles dependem muito de água.

Eliminação de plantas vivas doentes reduzindo a fonte de inóculo, a eliminação de plantas doentes em geral é uma medida largamente adotada para o controle de vírus como o CVT e bactérias como o Candidatus Liberibacter spp. (causador do greening ou doença do dragão amarelo), 

Manejo do stand de plantas, essa medida visa a alteração do microclima (modifica-se a umidade relativa, luminosidade, ventilação) através da mudança no espaçamento no geral é uma prática pouquíssimo utilizada pois a tendência em todos os lugares do mundo para todas as culturas é o de adensar as plantas para garantir maiores produtividades, se por um lado ganha com produtividade historicamente isso eleva a maior incidência/severidade de pragas e doenças.

Ainda entram nas medidas o manejo da irrigação, seleção do local de plantio, material propagativo sadio, seleção da época de plantio e manejo da profundidade de plantio, que com o plantio mais raso das sementes além da planta germinar mais rápido ficam menos tempos expostas aos patógenos.

                                                                   Solarização

São usados geralmente em casas de vegetação, viveiro e pequenas áreas,pode-se utilizar: aquecimento,onde são empregadas o uso de vapor (ideal para o tratamento de substratos,pois penetra melhor no solo e fornece maior quantidade de calor) e água quente (ideal para tratar vasos ou bandejas, e também partes de plantas), a imersão de partes de plantas em água quente é conhecida como termoterapia, exemplos: tratamento em mamões contra a antracnose,usando dupla imersão 42 C – 30 Min e depois 49 C- 20 Min , a cana em 50,5 C por 2 Horas para tratar o carvão da cana (causado por Ustilago scitaminea) , bulbilhos de alho e rizomas de bananeira a 55 C por 20 min contra nematoides, a termoterapia pode ser utilizada no tratamento de sementes de repolho conta a podridão-negra (causada pela bactéria Xanthomonas campestris pv. Campestris) com imersão a 50 C durante 30 Min. O aquecimento com ar seco também pode ser usado principalmente na pós colheita da batata-doce e em sementes de algodão e cevada. 

Solarização, consiste na cobertura do solo com filme plástico,para aumentar a temperatura do solo com a energia solar, com o aumento da temperatura os patógenos são inativados, o princípio da solarização é semelhante ao do efeito estufa onde ocorre a transmição de ondas curtas para o solo e impede a saída de ondas longas, melhores resultados são alcançados quando o solo está úmido, pois tem-se maior condutividade térmica,segundo os estudiosos canteiros solarizados por 60 e 90 dias obtiveram bons resultados.

A radiação ionizante (ondas de alto conteúdo energético), como a ultravioleta (UV), raios X e raios gama, apesar de ser considerado seguro pelo órgãos de fiscalização e saúde pública uso de radiação para o controle de doenças de plantas, a dose necessária pode causar danos ao tecido vegetal e o custo é elevado a radiação tem sido utilizada também como fator de formação de resistência como no estudo com maças tratadas com UV-C adquiriram maior resistente ao fungo causador do mofo-azul.



O controle biológico busca reduzir a população de patógenos através de organismos antagonistas,as medidas envolvidas nesse tipo de controle estão associadas as interações como competição por nutrientes, competição por minerais (especificamente o ferro,que é um elemento limitante para o metabolismo devido sua baixa disponibilidade no solo e grande importância para o ciclo de vida dos patógenos), competição por espaço, antibiose (acumulo de compostos orgânicos de baixo peso molecular que são deletérios a fitopatógenos), hiperparasitismo (um microrganismo parasita o outro), resistência induzida (introdução de estirpe fraca fazendo com que a planta acione mecanismos de defesas e por consequência permaneça protegida de uma estirpe mais virulenta,medida usada em citros para o controle do vírus da tristeza), alelopatia e hipovirulência também são medidas do controle biológico.

No ano de 2015 a Embrapa lançou uma cultivar de soja RR resistente aos nematoide do cisto (raças 3, 4, 6, 9, 10 e 14) e das galhas (Meloydogine incognita e M. javanica), batizada com o nome de BRS 7380RR.

É de longe o melhor método de controle, será que algum dia vamos obter variedades absolutamente livres de qualquer infecção?Por exemplo, um cafeeiro imune a Hemileia vastatrix (ferrugem do cafeeiro), no geral encontramos variedades que são mais ou menos resistentes (ou seriam tolerantes?alguns autores defendem que tolerância é uma forma de resistência...bom enquanto os estudiosos não chegam em um concesso vou tratar apenas do termo resistência).

Quanto aos mecanismo de resistência,temos:

Mecanismos pré-existentes: a arquitetura da planta e suas estruturas dificultam a entrada do patógeno, através de barreiras como a espessura da cutícula, presença de compostos tóxicos (fenóis por exemplo), conformação e número de estômatos.

Mecanismos pós-penetração: Produção de substância tóxicas (resinas,lignina, tiloses) afim de retardar ou impedir a colonização do patógeno.

A resistência pode ser de dois tipos: vertical ou horizontal.

Na resistência vertical é o que os estudiosos chama de "100% ou nada", ou seja uma variedade pode ser totalmente resistente a uma ou mais raça de um determinado patógeno e para outras raças ser totalmente suscetível, esse tipo de resistência também é conhecida como resistência qualitativa. E está associada a um ou pouco genes e por isso tem efeito maior não sendo afetada por fatores ambientais.

Na resistência horizontal é onde uma variedade possui sempre uma certo grau de resistência a todas as raças de um determinado patógeno e por isso é conhecida resistência quantitativa, em geral é uma resistência envolvida por muitos genes (larga base genética) e isso faz com que individualmente tenham efeito menor e ao se juntarem tenham efeito maior (similar ao que acontece com a resistência vertical, o fato de serem um ou poucos genes possibilita a "ligação" de maneira contínua muito fácil porém por serem poucos genes ou quando é apenas um e eles não se "ligam" de maneira devida sua expressão é muito menor que a de variedades com resistência horizontal e por isso se tornam totalmente suscetíveis). A resistência horizontal pode ser afetada por fatores ambientais ela também atua no progresso da doença enquanto a resistência vertical atua na redução de inóculo inicial.

A obtenção de variedades resistentes é possível graças ao refinamento de diversas técnicas, temos a hibridação que é transferência de genes que conferem resistências em uma espécie ou variedade para outra ou com a manipulação do genoma das plantas com utilização de mutações para aumentar a freqüência de material resistente por meio de alterações não controladas no genoma.

Por fim, todas essas medidas podem ser agrupadas por princípios de controle. Exclusão, erradicação, proteção, imunização, escape e terapia.

Exclusão: visa impedir ou reduzir a chance de introdução de um patógeno em uma área onde o mesmo não ocorre. Exemplos: Legislação fitossanitária (quarentena), adquirir sementes e mudas sadias, tratamento de mudas e sementes, desinfestação de máquinas e implementos, uso de pedilúvios.

Erradicação: visa eliminar o patógeno ou reduzir sua população da área onde se estabeleceu. Exemplos: rotação de culturas, inundação, pousio (vazio sanitário), preparo do solo, drenagem, plantas antagonistas, eliminação dos restos de cultura, adição de matéria orgânica, solarização, utilização de defensivos agrícolas (agrotóxicos), eliminação de plantas doentes.

Proteção: visa evitar infecções das plantas pelo patógeno que está no local. Exemplos: fungicidas protetores, uso de inseticidas, controle biólogico, tratamento de sementes, tratamento pós-colheita, manejo do ambiente de cultivo.

Imunização: visa utilização de plantas resistentes. Exemplos: Resistência vertical, resistência horizontal, proteção cruzada, plantas transgênicas, resistência induzida.

Terapia: visa tratar ou curar infecções. Exemplos: Termoterapia, Cirurgia, Podas, Quimioterapia.

Escape: visa diminuir as condições para o desenvolvimento do patógeno. Exemplos: Escolha da área e do local de plantio, escolha da época de plantio, modificação das práticas culturaistécnicas de armazenagem de grãos.

Vejo vocês na parte 4!