sábado, 13 de agosto de 2016

Pessoal peço desculpas pela falta de atualizações aqui no blog durante as última semanas, até segunda vou trazer algo novo para vocês.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

#7- Introdução a Fitopatologia (parte 3)

                      
                          JUROS SIMPLES E JUROS COMPOSTOS EM FITOPATOLOGIA?

Antes de iniciar o assunto dos demais tipos de controle para fitopatógenos, eu fiz uma releitura da parte 1 e gostaria de trazer a luz de vocês um conceito útil na tomada de decisão dos métodos de controle,que seria o ciclo de vida dos patógenos (ciclo primário e ciclo secundário).

O ciclo primário é uma característica de patógenos que produzem inóculo apenas uma vez quando estão na cultura, em outras palavras durante todo o ciclo da cultura (plantio até a colheita) não ocorrem novas infecções, logo se a quantidade de patógenos primários em uma cultura é baixa a intensidade da doença também é baixa! O aumento da incidência da doença ocorre gradativamente a cada plantio, vamos pegar a cárie do trigo como exemplo, no caso as sementes infectadas carregam ustilósporos os quais são dispersos e atingem a superfície de sementes sadias, após o plantio o fungo infecta a planta e novos ustilósporos serão produzidos nas sementes.  

O que ocorreu então? O fungo que causa doença foi disperso, infectou novas sementes, após o plantio produziu novas estruturas de sobrevivência nas sementes infectadas,foi disperso...e assim continua!

O ciclo secundário ocorre quando após a infecção primária a planta continua produzindo mais inóculo e gerando novas infecções, a ferrugem asiática da soja é um exemplo de doença que apresenta ciclo secundário, no caso os esporos (inóculo primário) são dispersos pelo vento atingem folhas sadias,iniciam o ciclo primário produzindo novos esporos (inóculo secundário) que são dispersos novamente e causam novas infecções e por aí vai!

As doenças de juros simples tipicamente são: murchas, cáries, carvões, tombamentos, podridões radiculares e as de juros compostos: antracnoses, ferrugens, manchas foliares e viroses (via inseto vetor).

Bem, acho que deu pra pegar um pouco o fio da meada, qualquer dúvida podem deixar nos comentários.

partindo para a parte 3 propriamente dita,vou começar falando sobre controle cultural.



Puxando para sistemas alternativos (agricultura orgânica) o controle cultural é um grande trunfo. A rotação de culturas por exemplo é uma medida de controle cultural (você pode ler um pouco mais neste post: http://doutordocampo.blogspot.com.br/2016/07/rotacao-de-culturas-para-pequenos.html), e sua efetividade vai depender dos tipos de patógenos na área,caso sejam patógenos com ampla gama de hospedeiros como a Sclerotinia sclerotiorum (fungo causador do mofo branco) forçam a utilização de outra medida de controle.


                                                           (Sclerotinia sclerotiorum)

Outros métodos que se enquadram como controle cultural:

A eliminação de restos culturais desde que economicamente viável tem grande potencial como por exemplo no controle do mofo cinzento (causado por Botrysis cinera) que é a doença mais importante da cultura da rosa.

Adição de matéria orgânica que vai introduzir microrganismos benéficos que irão competir com os patógenos além de melhorar as condições químicas e físicas do solo.

Drenagem que é uma medida bastante eficiente no controle de Oomycetes pois eles dependem muito de água.

Eliminação de plantas vivas doentes reduzindo a fonte de inóculo, a eliminação de plantas doentes em geral é uma medida largamente adotada para o controle de vírus como o CVT e bactérias como o Candidatus Liberibacter spp. (causador do greening ou doença do dragão amarelo), 

Manejo do stand de plantas, essa medida visa a alteração do microclima (modifica-se a umidade relativa, luminosidade, ventilação) através da mudança no espaçamento no geral é uma prática pouquíssimo utilizada pois a tendência em todos os lugares do mundo para todas as culturas é o de adensar as plantas para garantir maiores produtividades, se por um lado ganha com produtividade historicamente isso eleva a maior incidência/severidade de pragas e doenças.

Ainda entram nas medidas o manejo da irrigação, seleção do local de plantio, material propagativo sadio, seleção da época de plantio e manejo da profundidade de plantio, que com o plantio mais raso das sementes além da planta germinar mais rápido ficam menos tempos expostas aos patógenos.

                                                                   Solarização

São usados geralmente em casas de vegetação, viveiro e pequenas áreas,pode-se utilizar: aquecimento,onde são empregadas o uso de vapor (ideal para o tratamento de substratos,pois penetra melhor no solo e fornece maior quantidade de calor) e água quente (ideal para tratar vasos ou bandejas, e também partes de plantas), a imersão de partes de plantas em água quente é conhecida como termoterapia, exemplos: tratamento em mamões contra a antracnose,usando dupla imersão 42 C – 30 Min e depois 49 C- 20 Min , a cana em 50,5 C por 2 Horas para tratar o carvão da cana (causado por Ustilago scitaminea) , bulbilhos de alho e rizomas de bananeira a 55 C por 20 min contra nematoides, a termoterapia pode ser utilizada no tratamento de sementes de repolho conta a podridão-negra (causada pela bactéria Xanthomonas campestris pv. Campestris) com imersão a 50 C durante 30 Min. O aquecimento com ar seco também pode ser usado principalmente na pós colheita da batata-doce e em sementes de algodão e cevada. 

Solarização, consiste na cobertura do solo com filme plástico,para aumentar a temperatura do solo com a energia solar, com o aumento da temperatura os patógenos são inativados, o princípio da solarização é semelhante ao do efeito estufa onde ocorre a transmição de ondas curtas para o solo e impede a saída de ondas longas, melhores resultados são alcançados quando o solo está úmido, pois tem-se maior condutividade térmica,segundo os estudiosos canteiros solarizados por 60 e 90 dias obtiveram bons resultados.

A radiação ionizante (ondas de alto conteúdo energético), como a ultravioleta (UV), raios X e raios gama, apesar de ser considerado seguro pelo órgãos de fiscalização e saúde pública uso de radiação para o controle de doenças de plantas, a dose necessária pode causar danos ao tecido vegetal e o custo é elevado a radiação tem sido utilizada também como fator de formação de resistência como no estudo com maças tratadas com UV-C adquiriram maior resistente ao fungo causador do mofo-azul.



O controle biológico busca reduzir a população de patógenos através de organismos antagonistas,as medidas envolvidas nesse tipo de controle estão associadas as interações como competição por nutrientes, competição por minerais (especificamente o ferro,que é um elemento limitante para o metabolismo devido sua baixa disponibilidade no solo e grande importância para o ciclo de vida dos patógenos), competição por espaço, antibiose (acumulo de compostos orgânicos de baixo peso molecular que são deletérios a fitopatógenos), hiperparasitismo (um microrganismo parasita o outro), resistência induzida (introdução de estirpe fraca fazendo com que a planta acione mecanismos de defesas e por consequência permaneça protegida de uma estirpe mais virulenta,medida usada em citros para o controle do vírus da tristeza), alelopatia e hipovirulência também são medidas do controle biológico.

No ano de 2015 a Embrapa lançou uma cultivar de soja RR resistente aos nematoide do cisto (raças 3, 4, 6, 9, 10 e 14) e das galhas (Meloydogine incognita e M. javanica), batizada com o nome de BRS 7380RR.

É de longe o melhor método de controle, será que algum dia vamos obter variedades absolutamente livres de qualquer infecção?Por exemplo, um cafeeiro imune a Hemileia vastatrix (ferrugem do cafeeiro), no geral encontramos variedades que são mais ou menos resistentes (ou seriam tolerantes?alguns autores defendem que tolerância é uma forma de resistência...bom enquanto os estudiosos não chegam em um concesso vou tratar apenas do termo resistência).

Quanto aos mecanismo de resistência,temos:

Mecanismos pré-existentes: a arquitetura da planta e suas estruturas dificultam a entrada do patógeno, através de barreiras como a espessura da cutícula, presença de compostos tóxicos (fenóis por exemplo), conformação e número de estômatos.

Mecanismos pós-penetração: Produção de substância tóxicas (resinas,lignina, tiloses) afim de retardar ou impedir a colonização do patógeno.

A resistência pode ser de dois tipos: vertical ou horizontal.

Na resistência vertical é o que os estudiosos chama de "100% ou nada", ou seja uma variedade pode ser totalmente resistente a uma ou mais raça de um determinado patógeno e para outras raças ser totalmente suscetível, esse tipo de resistência também é conhecida como resistência qualitativa. E está associada a um ou pouco genes e por isso tem efeito maior não sendo afetada por fatores ambientais.

Na resistência horizontal é onde uma variedade possui sempre uma certo grau de resistência a todas as raças de um determinado patógeno e por isso é conhecida resistência quantitativa, em geral é uma resistência envolvida por muitos genes (larga base genética) e isso faz com que individualmente tenham efeito menor e ao se juntarem tenham efeito maior (similar ao que acontece com a resistência vertical, o fato de serem um ou poucos genes possibilita a "ligação" de maneira contínua muito fácil porém por serem poucos genes ou quando é apenas um e eles não se "ligam" de maneira devida sua expressão é muito menor que a de variedades com resistência horizontal e por isso se tornam totalmente suscetíveis). A resistência horizontal pode ser afetada por fatores ambientais ela também atua no progresso da doença enquanto a resistência vertical atua na redução de inóculo inicial.

A obtenção de variedades resistentes é possível graças ao refinamento de diversas técnicas, temos a hibridação que é transferência de genes que conferem resistências em uma espécie ou variedade para outra ou com a manipulação do genoma das plantas com utilização de mutações para aumentar a freqüência de material resistente por meio de alterações não controladas no genoma.

Por fim, todas essas medidas podem ser agrupadas por princípios de controle. Exclusão, erradicação, proteção, imunização, escape e terapia.

Exclusão: visa impedir ou reduzir a chance de introdução de um patógeno em uma área onde o mesmo não ocorre. Exemplos: Legislação fitossanitária (quarentena), adquirir sementes e mudas sadias, tratamento de mudas e sementes, desinfestação de máquinas e implementos, uso de pedilúvios.

Erradicação: visa eliminar o patógeno ou reduzir sua população da área onde se estabeleceu. Exemplos: rotação de culturas, inundação, pousio (vazio sanitário), preparo do solo, drenagem, plantas antagonistas, eliminação dos restos de cultura, adição de matéria orgânica, solarização, utilização de defensivos agrícolas (agrotóxicos), eliminação de plantas doentes.

Proteção: visa evitar infecções das plantas pelo patógeno que está no local. Exemplos: fungicidas protetores, uso de inseticidas, controle biólogico, tratamento de sementes, tratamento pós-colheita, manejo do ambiente de cultivo.

Imunização: visa utilização de plantas resistentes. Exemplos: Resistência vertical, resistência horizontal, proteção cruzada, plantas transgênicas, resistência induzida.

Terapia: visa tratar ou curar infecções. Exemplos: Termoterapia, Cirurgia, Podas, Quimioterapia.

Escape: visa diminuir as condições para o desenvolvimento do patógeno. Exemplos: Escolha da área e do local de plantio, escolha da época de plantio, modificação das práticas culturaistécnicas de armazenagem de grãos.

Vejo vocês na parte 4!








segunda-feira, 25 de julho de 2016

Rotação de Culturas Para Pequenos Agricultores

(Exemplo de planejamento envolvendo rotação de culturas,Obs: imagem retirada do Google, batata inglesa não é raiz e sim tubérculo!!!)

Gostaria começar descrevendo sobre a origem do plantio direto, o f**** é que na literatura que tenho acesso não achei muito sobre fatores históricos, porém não é difícil de se imaginar que assim como a adubação verde, que foi utilizada na Europa e levada a Ásia, muito provavelmente pela influência/domínio dos povos asiáticos devido a uma forte expansão de seus territórios, acredito que a rotação de culturas em alguma parte da história tenha cruzado com um destino similar.  

Ainda assim, podemos encontrar alguns exemplos em lugares impressionantes,nos documentários que apresentam sociedades africanas que mantém vivas seus valores e que praticam uma agricultura "simples" é comum o uso de rotação para evitar o cultivo em um mesmo espaço por mais de um ano.

Rotação de culturas é exatamente isso, alternar em um mesmo local , diferentes culturas evitando a degradação química, física e biológica do solo promovendo o uso sustentável do solo e a manutenção da produtividade das culturas.

Não deve ser confundida com sucessão de culturas que é a mudança de culturas após o encerramento do ciclo de cultivo de cada uma dentro do ano agrícola, enquanto a rotação de culturas é um planejamento de longo prazo que envolve aspectos técnicos e econômicos para se chegar a um equilíbrio biológico alterado pela práticas agrícolas, devido ao rápido ciclo que temos na sucessão de culturas esse equilíbrio não pode ser estabelecido completamente e portanto sendo uma prática que está atrelada mais há aspectos econômicos.

A rotação de culturas deve seguir alguns princípios:

1) As culturas empregadas na rotação de culturas devem apresentar diferentes profundidades do sistema radicular e exigências nutricionais. Se possível interações alelopáticas entre as culturas.

2) Alternância de culturas não hospedeiras das mesmas pragas e/ou doenças.

3) Intervalo suficiente para que todas as culturas empregadas consigam cumprir seu ciclo

4) Adequação à demanda do mercado consumidor da região (em outras palavras deve-se levar em conta a facilidade de comercialização das culturas que serão rotacionadas)

Vale ressaltar que uma cultura não devo voltar para mesma área em que estava sendo cultivada com menos de 2 anos, alguns pesquisadores defendem um intervalo maior (3 anos, para mais) e se formos analisar é algo bastante válido pois é uma forma de controle à pragas e doenças (lembram-se do triângulo da doença? Pois é, mesmo com a praga na área e ambiente favorável como não há hospedeiro suscetível não ocorre doença) além de garantir a completa decomposição da biomassa da área. Na minha opinião o tempo para se voltar com a cultura deve ser estabelecido de acordo com a relação C/N já que um dos princípios da rotação não seria a alternância de culturas não hospedeiras de mesmas pragas e/ou doenças??
  
Estudos ainda mostram que a batata não deve ser alternada diretamente com plantas da mesma família (Solanaceae, exemplos: tomate, fumo, beringela...) ou por plantas suscetíveis a nematoides principalmente ao da galha (Meloidogyne sp.) e especificamente a soja por ser suscetível ao Heterodera glycines causador do cisto da soja. O feijão (que ta tipo: "fui abrir um pote de sorvete dentro do freezer e tinha sorvete mesmo") caí bem sendo substituído por milho,mamona ou algodão. Por falar em algodão ele pode ser alternado com milho ou por um adubo verde indicado para sua região.

Na minha opinião, a grande desvantagem da rotação de culturas para pequenos agricultores é a falta de crédito, se já está difícil pegar crédito para grandes culturas imagina para rotação usando adubo verde...é meus amigos as vezes não basta sonhar e ter um bom projeto, dependemos da boa vontade dos bancos.

Inté a proxima!
Fiquem com Deus,

Dr.do Campo

quinta-feira, 21 de julho de 2016

#6 - Introdução a Fitopatologia, parte 2

Olá amigos,

Nesta segunda parte da "introdução a fitopatologia" abordarei os aspectos de controle químico para fitopatógenos. (Obs: na terceira parte vou escrever sobre os demais tipos de controle e na última para fechar o conteúdo tratarei sobre a etiologia e epidemiologia das principais doenças nas culturas de maior impacto econômico).

(Escultura de Alexis Millardet em Bordeaux, França. Criador da Calda Bordalesa, importante fungicida que a principio foi utilizado para o controle do míldio da videira.)


(Classes toxicológicas de agrotóxicos, segundo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.)

O uso de agrotóxicos além de riscos para saúde humana, pode acarretar danos ambientais. Benzimidazois em macieiras, por exemplo, leva a mortalidade da população de minhocas da área,retardando a decomposição dos restos foliares (a macieira é uma planta caducifólia).Ácaros-predadores também apresentam sensibilidade ao benzimidazol o que pode levar ao rápido estabelecimento de ácaros fitófagos e mais um problema na conta do produtor rural.

A comercialização dos agrotóxicos é feita através de diferentes formulações em conjunto com adjuvantes (substâncias inertes) para facilitar o manuseio da calda e a aplicação do produto,além de ajudar na estabilidade da suspensão e na eficiência do produto .As principais formulações são:

GRANULADOS (G OU GR): mistura dissolvida mais agente carreador (argila,por exemplo) formando grânulos que serão aplicados via solo. Apresentam como vantagens: nenhuma deriva, dispensa água para aplicação e liberação gradativa do princípio ativo.

PÓ SECO (PS): contém menos de 10% do ingrediente ativo, PS geralmente está associado a agrotóxicos a base de enxofre, como diluente são utilizados talco ou bentonita para ajudar na dispersão das partículas e evitar a formação de grumos que prejudicam a aplicação e a eficiência do produto.É vantajoso para o tratamento de sementes pois não incorporam umidade, facilitando a armazenagem ou plantio em SPD.

PÓ MOLHÁVEL (PM): as partículas são finamente moídas, além do ingrediente ativo há o agente molhante que pode ser iônico ou não iônico (preferência por não iônicos para evitar a precipitação com água rica em sais minerais) pode conter também agente espessante e agente hidrofílico,apresenta de 25% a 50% de ingrediente ativo.

SUSPENSÃO CONCENTRADA (SC): as partículas são finamente moídas chegando a ser de 10 a 15 vezes menores que na formulação PM, são de fácil dispersão e de grande estabilidade.Uma vantagem da SC é a afinidade com água. Permite eficaz tratamento de sementes por facilitar a penetração e cobertura do ingrediente ativo na semente.

CONCENTRADO EMULSIONÁVEL (CE): o ingrediente é dissolvido em óleo que está associado a um surfactante (reduz a tensão superficial que melhora o espalhamento) dispersa em água formando uma emulsão estável (mistura de substância hidrofóbica em água devido agente dispersante).Não utilizar CE em culturas que apresentam sensibilidade a óleo.

O método de aplicação é determinado pelo tipo do equipamento de aplicação disponível, formulação do produto e tipo da cultura.Alguns métodos de aplicação são:

PULVERIZAÇÃO (utilizado em PM, SC, CE via bomba costal,barra de pulverização , entre outros implementos) POLVILHAMENTO (utilizado em PS por meio de polvilhadeiras, tem a vantagem de não necessitar de água e sua desvantagem é baixa aderência quando utilizada nas parte aéreas de plantas), APLICAÇÃO DE GRANULADOS (utilizado em G e GR, com granuladeiras via solo, no sulco ou cova de plantio,não necessita de água), FUMIGAÇÃO (aplicação de produto volátil que emitirá gases tóxicos a patógenos).

Os agrotóxicos para controle de doenças em plantas são classificados de acordo com seu modo de ação, produtos que não penetram no tecido da planta e formam uma camada externa no local de aplicação são denominados protetores ou de contato. Produtos que são absorvidos pela planta e translocados de um ponto a outro, são denominados sistêmicos e ainda existem os neo-sistêmicos ou de profundidade que são absorvidos pela folha e tem translocação translaminar (movimento adaxial-abaxial por exemplo).

Entre os protetores se destacam o enxofre elementar que é compatível com muitos fungicidas além de ser de baixo custo e apresentar baixa toxicidade (grupo IV) exceto para Rosaceaes (macieira,por exemplo) e Curcubitaceaes (melão,por exemplo) quando aplicado em altas temperaturas. E os cúpricos (a base do cobre), a Calda Bordalesa (sulfato de cobre penta-hidratado + cal virgem) é um fungicida desse grupo que é bastante conhecido sendo utilizado no controle da ferrugem do cafeeiro, além de várias outras doenças. Seu uso em excesso pode levar ao acúmulo de íons de cobre no solo. Entre os protetores orgânicos, emprega-se com frequência ditiocarbamatos em razão de sua eficiência, baixa fitotoxicidade e baixo custo de aquisição, suspeita-se que o principal metabólito dos ditiocarbamatos, o etileno tiouréia, é carcinogênico (causador de tumores malignos). Outros grupos de protetores: Dicarboximidas, Nitrogenados alifáticos, Aromáticos.

Os produtos de ação sistêmicas podem ser absorvidos pelas raízes ou folhas, sendo translocados via xilema, a ação sistêmica é mais significativa na parte inferior para a parte superior devido ao fluxo transpiratório da planta. Quando comparados aos protetores os sistêmicos apresentam diversas vantagens:

-Consegue atingir locais que para os protetores são inacessíveis
-Tem tempo de ação maior que os protetores
-Requer doses menores que as usadas com os protetores
-Consegue atingir a parte aérea quando aplicado via solo ou em sementes

A grande desvantagem dos sistêmicos é a pressão de seleção sobre indivíduos aumentando a freqüência de indivíduos resistentes, os protetores por atuarem em diversos sítios do metabolismo dos fitopatógenos tem baixa possibilidade de desenvolverem indivíduos resistentes. Os mecanismos de resistência envolvem: redução da afinidade no sítio de ação; redução da absorção ou aumento da capacidade de eliminação; destoxificação; não conversão para o composto ativo; compensação (aumento da enzima inibida); desvio do ciclo, estes mecanismos podem atuar em conjunto ou separadamente.

Para evitar a seleção de indivíduos resistentes, recomenda-se: não utilizar o produto sistêmico isoladamente (sistêmico+protetor ou rotação de sistêmicos com modo de ação divergentes), seguir a dose,época e período de reentrada do fabricante, não aplicar o produto no solo para controlar doenças na parte aérea a menos que ele tenha sido desenvolvido para ser aplicado dessa forma, adotar manejo integrado.

Abaixo coloquei alguns exemplos de grupos fungicidas sistêmicos, modo de ação e o nome comercial de alguns deles, quais fungos que controlam (lembrando que para saber se o fungicida pode ser usado ou não em determinada cultura, você deve acessar o site agrofit, http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons para saber se o fungicida é registrado para a cultura de interesse,caso o fungicida não apareça na lista da agrofit deve-se utilizar outro fungicida que seja registrado)

GRUPO: Benzimidazóis
MODO DE AÇÃO: Interferem na biossíntese e divisão do núcleo
NOME COMERCIAL (EXEMPLO) : Carbendazim...
CONTROLE: Manchas foliares, antracnose, oídios, tratamento de sementes para Fusarium sp.

GRUPO: Triazóis
MODO DE AÇÃO: Interferem na biossíntese de esteróis (especificamente do ergosterol)
NOME COMERCIAL (EXEMPLOS): Triadimenol, Tebuconazole, Metconazole...
CONTROLE: Ferrugens, oídios, manchas foliares, antracnose...

GRUPO: Imidazóis
MODO DE AÇÃO: Inibidores da biossíntese do ergosterol (semelhantes ao triazóis)
NOME COMERCIAL (EXEMPLO): Imazalil
CONTROLE: Pós-colheita de citros

GRUPO: Dicarboximida
MODO DE AÇÃO: Interferem na biossíntese de lipídios e membranas
NOME COMERCIAL(EXEMPLO): Procimidone
CONTROLE: Manchas foleares e podridões causadas por B.cinera, S.sclerotiorum

Os organofosforados apresentam mesmo modo de ação e é um grupo onde seus produtos são específicos para controle da brusone do arroz (P.orizae)

GRUPO: Carboxamidas
MODO DE AÇÃO: Inibem a succinato desidrogenase, enzima que participa do processo de respiração na mitocôndria.
NOME COMERCIAL(EXEMPLOS) : Carboxin, Oxycarboxin...
CONTROLE: Filo Basidiomycota (ferrugens, carvões, cáries e Rhizoctonia spp.)

GRUPO: Estrobilurinas, descobortas recentemente por um composto produzido pelo fungo Strobilurus tenacellus
MODO DE AÇÃO: Inibidores de quinonas/ acoplamento no citocromo b no complexo III da respiração.
NOME COMERCIAL (EXEMPLOS): Azpxystrobin,tryfloxystrobin...
CONTROLE: Ferrugens, oídios, manchas foleares,

GRUPO: Carbamato
MODO DE AÇÃO: Interferem na permeabilidade da membrana
NOME COMERCIAL: Propamocarb
CONTROLE: Oomycetes (Pythium e Phytophthora),pode ser usado na rotação com outros produtos que também controlam esse tipo de fungo já que o modo de ação é diferente evitando assim a resistência de indivíduos.

Inté a próxima.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Como identificar deficiência de nutrientes em plantas?

No campo a tarefa de identificar sintomas de déficit nutricional pode ser uma tarefa desafiadora para o produtor ou técnico devido a semelhança desses sintomas com os causados por pragas, doenças,sol, condições de solo e por defensivos como herbicidas. Exigindo do técnico experiência prática para evitar erros de diagnóstico evitando prejuízo financeiro além de possíveis danos ambientais.

Para auxiliar na identificação dos sintomas, os elementos devem ser divididos de acordo com a sua mobilidade na planta, sendo classificados como elementos móveis e elementos imóveis ou pouco móveis.Porque isso é importante? Elementos móveis quando em déficit, levam as folhas mais velhas a manifestarem os sintomas primeiro (folhas mais velhas = folhas mais baixeiras) enquanto elementos imóveis ou pouco móveis quando em déficit, levam as folhas mais jovens a manifestarem os sintomas primeiro (folhas mais jovens = folhas do dossel superior).

Elementos móveis : N, P, K, Mg. (translocados via floema)

Elementos imóveis ou pouco móveis: Ca, S, B, Mn, Fe, Cu, Zn.

Abaixo coloquei algumas imagens com a descrição dos sintomas de deficiência nutricional de cada um dos elementos.

.NITROGÊNIO

Sintoma: clorose geral da folhas, iniciando em forma de "V" na borda da folha e redução do crescimento e desenvolvimento da planta.


.FÓSFORO

Sintoma: plantas nanicas, folhas com coloração arroxeada, acizentada ou azulada.

.POTÁSSIO

Sintoma: clorose e necrose das bordas das folhas (a clorose tem formato de "V" invertido).


.MAGNÉSIO

Sintomas: Clorose internerval que com o passar do tempo evolui para necrose, fazendo o sintomas ser semelhante ao de deficiência por potássio. 



   SINTOMAS EM FOLHAS MAIS JOVENS

.CÁLCIO

Sintomas: Epinastia, deformação das folhas, morte de regiões meristemáticas, clorose e necrose foliar na região do pecíolo e nas bordas.


.ENXOFRE

Sintomas: Clorose generalizada das folhas (muito semelhante à deficiência por N porém ocorre nas folhas mais jovens).


.BORO

Sintomas: Semelhante a deficiência por Ca, nota-se super-brotação das rosetas folheares e da perca da dominância apical devido a morte das regiões meristemáticas.


.ZINCO

Sintomas: Clorose internerval semelhante a deficiência por Mg, porém nas folhas mais jovens.


.MANGANÊS

Sintomas: Inicialmente muito semelhante a deficiência de Fe, clorose internerval leve, pontos cloróticos expandem e se tornam necroses.


.FERRO

Sintomas: Clorose internerval generalizada de tom amarelo claro e com pontos necróticos em alguns casos.


.COBRE

Sintomas: Murcha, deformação do limbo, clorose.





domingo, 17 de julho de 2016

#3 - Introdução a Fitopatologia, parte 1


As doenças de plantas são responsáveis por perdas de 14% em todo o mundo, enquanto 56,6% da população de países em desenvolvimento (brasil-sil-sil) está engajada em algum setor agrícola essa taxa caí para menos de 10% nos países desenvolvidos.

É por isso que mesmo em pequenas propriedades caso tenha o controle dessas e outras questões é totalmente possível chegar a tão sonhada independência financeira, afinal o produtor médio brasileiro como irei tratar mais adiante em outro post (podem me cobrar caso eu esqueça) é o típico cara que gosta de rasgar dinheiro todo dia e ainda se acha o dono da razão, o intocável, o sabe-tudo.

O termo fitopatologia é originado do grego; fito = phyton (planta,vegetal), pato = pathos (doença),
logia = logos (tratado,estudo). Ou seja, é a ciência que estuda as doenças de plantas, causadas por diversos agentes por exemplo:

1- Candidatus liberibacter (bactéria, causadora do "greening" também conhecida como doença do dragão amarelo);

2- Heterodera glycines (nematóide, causador do cisto da soja)

3- Phakopsora pachyrhizi (fungo , causador da ferrugem asiática da soja)


4- Bean golden mosaic virus (vírus transmitido pela Bemisia tabaci, popularmente conhecida como mosca branca)


O triângulo da doença representa as interações patógeno, ambiente e hospedeiro.É uma importante forma de construir um controle ao atuar em um ou nos três vértices do triângulo partindo do conceito de que para que ocorra doença no campo, é necessário um ambiente favorável ao patógeno, hospedeiro suscetível e que o patógeno esteja presente e seja capaz de causar doença.



                                              CICLO DE VIDA DOS FITOPATÓGENOS
a etapa de germinação ocorre apenas para os fungos que para serem gerados necessitam da germinação de escleródios ou esporos.

Dispersão – Os principais meios de dispersão dos fitopatógenos são: material propagativo infectado (mudas,por exemplo), vento (agente de grande influência para dispersão de esporos fúngicos), água (irrigação, chuva, etc), insetos, implementos agrícolas, animais, homem. Este último, historicamente tem sido o principal agente de dispersão de doenças exóticas no país.

Inoculação – Corresponde à transferência do local onde o inóculo do fitopatógeno é produzido para o ponto no hospedeiro onde ocorrerá a infecção.É importante dizer aqui que inóculo é toda porção do patógeno capaz de iniciar a doença e fonte de inóculo é o local onde o mesmo é produzido,são exemplos de inóculos (micélios, partículas virais, ovos de nematoides) e como fonte (sementes, plantas, restos de culturas).

Penetração – O patógeno consegue entrar nos tecidos do hospedeiro por duas vias: direta ou indireta.A penetração direta é típica de nematoides e fungos, no primeiro caso a penetração ocorre devido ao estilete do nematoide formado após a primeira ecdise e que consegue perfurar o tecido do hospedeiro, o nematoide então de acordo com seu hábito de parasitismo pode entrar  completamente no hospedeiro ou permanecer fora (ectoparasita).No segundo caso,os fungos após a germinação criam um tubo germinativo que ao alongar-se desenvolve o apressório, estrutura responsável pela aderência do fugo ao hospedeiro e também para auxiliar na penetração e por fim parte um primórdio de hifa mais delgada, conhecida como hifa infectiva capaz de penetrar no hospedeiro.

A penetração indireta ocorre por meio de ferimentos ou aberturar naturais (hidatódios, estômatos, lenticelas) bactérias, vírus, muitos fungos penetram indiretamente.

Infecção – Desencadeia dois eventos importantes: o aparecimento de sintomas e sinais.
Sintoma é o conjunto de alterações fisiológicas e morfológicas que ocorrem no hospedeiro, o intervalo de tempo entre a inoculação até o sintoma é conhecido como período de incubação. Sinal é a presença de estruturas do fitopatógeno que podem ser observadas e o intervalo de tempo entra a inoculação até o sinal é conhecido com período latente.

Colonização – Quando o patógeno ocupa os tecidos do hospedeiro.

Reprodução – A reprodução do fitopatógeno pode ocorrer no interior dos tecidos ou externamente a eles.

Sobrevivência – Etapa que garante a sobrevivência dos fitopatógenos por meio de estratégias na ausência de hospedeiro e/ou situações críticas do clima. Os fungos por exemplo, sobrevivem na forma de micélio ou através de estruturas de sobrevivência: escleródios ou esporos.