Olá amigos,
Nesta segunda parte da
"introdução a fitopatologia" abordarei os aspectos de
controle químico para fitopatógenos. (Obs: na terceira parte vou
escrever sobre os demais tipos de controle e na última para fechar o
conteúdo tratarei sobre a etiologia e epidemiologia das principais
doenças nas culturas de maior impacto econômico).
(Escultura de
Alexis Millardet em Bordeaux, França. Criador da Calda Bordalesa,
importante fungicida que a principio foi utilizado para o controle do
míldio da videira.)
(Classes
toxicológicas de agrotóxicos, segundo Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento.)
O uso de
agrotóxicos além de riscos para saúde humana, pode
acarretar danos ambientais. Benzimidazois em macieiras, por
exemplo, leva a mortalidade da população de minhocas da
área,retardando a decomposição dos restos foliares (a macieira é
uma planta caducifólia).Ácaros-predadores também apresentam
sensibilidade ao benzimidazol o que pode levar ao rápido
estabelecimento de ácaros fitófagos e mais um problema na conta do
produtor rural.
A
comercialização dos agrotóxicos é feita
através de diferentes formulações em conjunto com adjuvantes
(substâncias inertes) para facilitar o manuseio da calda e a
aplicação do produto,além de ajudar na estabilidade da suspensão
e na eficiência do produto .As principais formulações são:
GRANULADOS
(G OU GR): mistura dissolvida mais agente carreador
(argila,por exemplo) formando grânulos que serão aplicados
via solo. Apresentam como vantagens: nenhuma deriva, dispensa água
para aplicação e liberação gradativa do princípio ativo.
PÓ SECO
(PS): contém menos de 10% do ingrediente ativo, PS
geralmente está associado a agrotóxicos a base de enxofre,
como diluente são utilizados talco ou bentonita para ajudar
na dispersão das partículas e evitar a formação de grumos
que prejudicam a aplicação e a eficiência do produto.É vantajoso
para o tratamento de sementes pois não incorporam umidade,
facilitando a armazenagem ou plantio em SPD.
PÓ
MOLHÁVEL (PM): as partículas são finamente moídas,
além do ingrediente ativo há o agente molhante que pode ser
iônico ou não iônico (preferência
por não iônicos para evitar a precipitação com água rica em sais
minerais) pode conter também agente espessante e agente hidrofílico,apresenta de 25% a 50% de ingrediente ativo.
SUSPENSÃO
CONCENTRADA (SC): as partículas são finamente moídas chegando
a ser de 10 a 15 vezes menores que na formulação PM, são
de fácil dispersão e de grande estabilidade.Uma vantagem da SC
é a afinidade com água. Permite eficaz tratamento de
sementes por facilitar a penetração e cobertura do ingrediente
ativo na semente.
CONCENTRADO
EMULSIONÁVEL (CE): o ingrediente é dissolvido em óleo
que está associado a um surfactante (reduz a tensão
superficial que melhora o espalhamento) dispersa em água
formando uma emulsão estável (mistura de substância hidrofóbica em
água devido agente dispersante).Não utilizar CE em
culturas que apresentam sensibilidade a óleo.
O método de
aplicação é determinado pelo tipo do equipamento de aplicação
disponível, formulação do produto e tipo da cultura.Alguns métodos
de aplicação são:
PULVERIZAÇÃO
(utilizado em PM, SC, CE via bomba costal,barra de pulverização ,
entre outros implementos) POLVILHAMENTO (utilizado em PS por
meio de polvilhadeiras, tem a vantagem de não necessitar de água e
sua desvantagem é baixa aderência quando utilizada nas parte aéreas
de plantas), APLICAÇÃO DE GRANULADOS (utilizado em G e GR,
com granuladeiras via solo, no sulco ou cova de plantio,não
necessita de água), FUMIGAÇÃO (aplicação de produto
volátil que emitirá gases tóxicos a patógenos).
Os agrotóxicos
para controle de doenças em plantas são classificados de acordo
com seu modo de ação, produtos que não penetram no tecido da
planta e formam uma camada externa no local de aplicação são
denominados protetores ou de contato. Produtos que são
absorvidos pela planta e translocados de um ponto a outro, são
denominados sistêmicos e ainda existem os neo-sistêmicos
ou de profundidade que são absorvidos pela folha e tem
translocação translaminar (movimento adaxial-abaxial por exemplo).
Entre os
protetores se destacam o enxofre elementar que é
compatível com muitos fungicidas além de ser de baixo custo e
apresentar baixa toxicidade (grupo IV) exceto para Rosaceaes
(macieira,por exemplo) e Curcubitaceaes (melão,por exemplo)
quando aplicado em altas temperaturas. E os cúpricos (a
base do cobre), a Calda Bordalesa (sulfato de cobre
penta-hidratado + cal virgem) é um fungicida desse
grupo que é bastante conhecido sendo utilizado no controle da
ferrugem do cafeeiro, além de várias outras doenças. Seu uso em
excesso pode levar ao acúmulo de íons de cobre no solo. Entre
os protetores orgânicos, emprega-se com frequência
ditiocarbamatos em razão de sua eficiência, baixa
fitotoxicidade e baixo custo de aquisição, suspeita-se que o
principal metabólito dos ditiocarbamatos, o etileno tiouréia, é
carcinogênico (causador de tumores malignos). Outros grupos de
protetores: Dicarboximidas, Nitrogenados alifáticos, Aromáticos.
Os produtos de
ação sistêmicas podem ser absorvidos pelas raízes ou folhas,
sendo translocados via xilema, a ação sistêmica é mais
significativa na parte inferior para a parte superior devido ao fluxo transpiratório da planta. Quando comparados aos protetores os
sistêmicos apresentam diversas vantagens:
-Consegue
atingir locais que para os protetores são inacessíveis
-Tem tempo de
ação maior que os protetores
-Requer doses
menores que as usadas com os protetores
-Consegue
atingir a parte aérea quando aplicado via solo ou em sementes
A grande
desvantagem dos sistêmicos é a pressão de seleção sobre
indivíduos aumentando a freqüência de indivíduos resistentes, os
protetores por atuarem em diversos sítios do metabolismo dos
fitopatógenos tem baixa possibilidade de desenvolverem indivíduos
resistentes. Os mecanismos de resistência envolvem: redução
da afinidade no sítio de ação; redução da absorção ou aumento
da capacidade de eliminação; destoxificação; não conversão para
o composto ativo; compensação (aumento da enzima inibida); desvio
do ciclo, estes mecanismos podem atuar em conjunto ou separadamente.
Para evitar a
seleção de indivíduos resistentes, recomenda-se: não utilizar o
produto sistêmico isoladamente (sistêmico+protetor ou rotação
de sistêmicos com modo de ação divergentes), seguir a
dose,época e período de reentrada do fabricante, não aplicar o
produto no solo para controlar doenças na parte aérea a menos que
ele tenha sido desenvolvido para ser aplicado dessa forma, adotar
manejo integrado.
Abaixo
coloquei alguns exemplos de grupos fungicidas sistêmicos, modo de
ação e o nome comercial de alguns deles, quais fungos que controlam
(lembrando que para saber se o fungicida pode ser usado ou não em
determinada cultura, você deve
acessar o site agrofit, http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons para saber se o fungicida é registrado para a cultura de
interesse,caso o fungicida não apareça na lista da agrofit deve-se
utilizar outro fungicida que seja registrado)
GRUPO:
Benzimidazóis
MODO DE
AÇÃO: Interferem na biossíntese e divisão do núcleo
NOME
COMERCIAL (EXEMPLO) : Carbendazim...
CONTROLE:
Manchas foliares, antracnose, oídios, tratamento de sementes para
Fusarium sp.
GRUPO:
Triazóis
MODO DE AÇÃO:
Interferem na biossíntese de esteróis (especificamente do
ergosterol)
NOME COMERCIAL
(EXEMPLOS): Triadimenol, Tebuconazole, Metconazole...
CONTROLE:
Ferrugens, oídios, manchas foliares, antracnose...
GRUPO:
Imidazóis
MODO DE
AÇÃO: Inibidores da biossíntese do ergosterol (semelhantes ao
triazóis)
NOME
COMERCIAL (EXEMPLO): Imazalil
CONTROLE:
Pós-colheita de citros
GRUPO:
Dicarboximida
MODO DE AÇÃO:
Interferem na biossíntese de lipídios e membranas
NOME
COMERCIAL(EXEMPLO): Procimidone
CONTROLE:
Manchas foleares e podridões causadas por B.cinera, S.sclerotiorum
Os
organofosforados apresentam mesmo modo de ação e é um grupo onde
seus produtos são específicos para controle da brusone do arroz
(P.orizae)
GRUPO:
Carboxamidas
MODO DE
AÇÃO: Inibem a succinato desidrogenase, enzima que participa do
processo de respiração na mitocôndria.
NOME
COMERCIAL(EXEMPLOS) : Carboxin, Oxycarboxin...
CONTROLE:
Filo Basidiomycota (ferrugens, carvões, cáries e Rhizoctonia spp.)
GRUPO:
Estrobilurinas, descobortas recentemente por um composto produzido
pelo fungo Strobilurus tenacellus
MODO DE AÇÃO:
Inibidores de quinonas/ acoplamento no citocromo b no complexo III da
respiração.
NOME COMERCIAL
(EXEMPLOS): Azpxystrobin,tryfloxystrobin...
CONTROLE:
Ferrugens, oídios, manchas foleares,
GRUPO:
Carbamato
MODO DE
AÇÃO: Interferem na permeabilidade da membrana
NOME
COMERCIAL: Propamocarb
CONTROLE:
Oomycetes (Pythium e Phytophthora),pode ser usado na rotação com
outros produtos que também controlam esse tipo de fungo já que o
modo de ação é diferente evitando assim a resistência de
indivíduos.
Inté a
próxima.